A gorda e a cadeira
Na maior parte do tempo eu não me sinto diferente de ninguém. Mas existem momentos que me lembram que eu não caibo no mundo. E isso acontece 90% das vezes que eu preciso sentar em uma cadeira.
Tem sempre alguma coisa machucando, seja na coxa ou no culote, cadeiras são uma armadilha para gordos.
Minha configuração de mesa-cadeira-computador não é das mais ergométricas, mas como passava pouco tempo em casa, funcionava. Aí pandemia, emprego novo, home office aconteceram. Eis que, de repente, estou passando o dia inteiro no quarto, naquela configuração ruim, trabalhando.
Já deu problema no ombro. A poltrona que uso é baixa e deixa minhas pernas inchadas. Nada bom. Nada funcional pra longo prazo.
Nesse momento começou um drama bem grande na minha vida: comprar uma cadeira de escritório que aguente o meu peso.
Primeiro que já enrolei um monte pois sabia que precisaria pagar mais caro por uma cadeira que suporte o meu peso. Afinal, o que eu não preciso é de uma cadeira quebrada.
Fui tentar fazer pesquisas no Google para achar depoimentos de pessoas gordas e suas cadeiras. Não achei nada. A única coisa que encontrava eram essas cadeiras para obesos até 200 kg. Nenhuma outra opção. As outras cadeiras aguentavam peso menores ou com um limite muito próximo do meu. Preferi uma cadeira que me desse folga e não fosse me preocupar com isso.
Depois de enrolar alguns meses, tentar fazer outras pesquisas – sempre chegava nas mesmas opções –, contei meus dinheirinhos, pois não foi nada barato, e resolvi arriscar. Afinal trabalhar de casa é uma realidade agora. E como diz minha mãe, a conta do médico fica mais caro depois.
Ai começa o drama.
A cadeira vem montada, então tinha uma caixa de papelão gigantesca. O elevador do meu prédio é grande, para 15 pessoas, e mesmo assim a caixa mal passou na porta. Ela nem saiu do elevador. Eu apenas tirei a cadeira e deixei a caixa descer para ser descartada.
O segundo drama foi a cadeira passar no corredor do apartamento para chegar ao meu quarto. Só tem eu e minha mãe aqui em casa. A cadeira é larga e foi preciso uma gambiarra para conseguirmos trazer pro quarto. Mas não antes de eu me sentir humilhada pela minha própria casa e ouvir comentários escrotos da minha mãe — sem contar o olhar de pena que é bastante humilhante também.
Mas tudo isso seria lidável.
Se a cadeira não machucasse meu culote.
Paguei caro por uma cadeira que machuca meu culote.
Os braços da cadeira apertam meu culote e machuca. Além disso, a cadeira é mal acabada. O pé dela tem uma ponta que já machucou meu calcanhar. A parte debaixo do braço não tem finalização e, embaixo, os grampo são visíveis.
E não consigo nem devolver porque não tenho a caixa. Porque a caixa mal coube no elevador e foi descartada.
Quis contar minha história porque não achei nada quando comprei a cadeira. Pouco depois de comprar, até soube de outras opções — mais caras — que poderiam servir, mas já tinha feito a minha péssima escolha.
E, sinceramente, eu não tenho nem dica para você, pessoa gorda que chegou nesse texto procurando indicação de cadeira.
Mas se você, assim como eu, tem bunda grande, não compre essa cadeira.
